Hessel será lembrado "quando se cantar Grândola, Vila Morena", diz Mário Soares

O antigo Presidente da República Mário Soares considerou hoje que Stéphane Hessel, que morreu esta noite aos 95 anos, é "uma das pessoas que será lembrada" quando se cantar a música "Grândola, Vila Morena".
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"Quando se está a cantar a "Grândola, Vila Morena" [música emblemática do 25 de Abril de 1974, que tem sido ouvida em recentes ações de contestação ao Governo], uma das pessoas que será lembrada é com certeza ele, que disse "indignai-vos"", disse Soares, em declarações à agência Lusa, num comentário à morte do intelectual francês.

Para Mário Soares, o autor do 'best-seller' "Indignai-vos", Stéphane Hessel, era "um homem de superior qualidade e um homem extraordinário".

"É uma figura única, foi um resistente (...) antes e depois da guerra, um homem de bem, um homem extraordinário (...) É muito triste no momento atual que os bons morram. E ele não é bom, é muito bom", comentou.

Soares recordou, depois, o momento em que durante o seu exílio em França conheceu o antigo diplomata e ex-combatente da resistência francesa à ocupação alemã, bem como a reaproximação mais recente entre os dois.

"Convivemos quando eu estava no exílio em França e depois encontrámo-nos em vários sítios, sempre com uma grande amizade. Um belo dia a minha filha foi a Paris e trouxe um livrinho pequenino com o Hessel (...) li o livro, achei-o encantador, interessantíssimo, um "best-seller" fantástico e resolvi convidá-lo para vir a Portugal. Ele veio, fez aqui uma conferência na fundação [Mário Soares]", evocou.

"Para mim é uma tristeza imensa (...) Ele é uma figura histórica, não só para a França, como para o mundo livre. E para toda a gente que preza a democracia e a liberdade", concluiu.

Stéphane Hessel, diplomata de origem alemã, foi membro da Resistência Francesa, torturado pela Gestapo e preso num campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

É autor dos livros "Indignai-vos!" (2010) e "Empenhai-vos!" (2011), que venderam milhões de exemplares em todo o mundo e que inspiraram os movimentos dos "Indignados" em vários países, sobretudo no Sul da Europa.

Nascido em Berlim em 1917, cedo foi viver para França com a família, tendo obtido a nacionalidade francesa. A origem judaica obrigou-o a abandonar o país aquando da ocupação nazi, para se juntar à Resistência liderada por De Gaulle em Inglaterra.

Em 1944, foi preso em território francês e enviado para campos de concentração nazis, de onde conseguiu evadir-se. Após o fim da guerra, iniciou uma longa carreira diplomática e representou a França junto das Nações Unidas.

Homem de esquerda e europeísta convicto, Stéphane Hessel era até hoje o único redator ainda vivo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948.

Em 2010 publicou o pequeno manifesto "Indignai-vos", um sucesso de vendas traduzido para 25 países, incluindo Portugal. Só em França, o livro vendeu mais de dois milhões de exemplares.

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